Para além de visitar o espaço, o nosso objetivo principal foi perceber como é que nasceu o “Mickas Craft Beer” e quem é que está por detrás do balcão.

Acompanhados por uma blond ale e uma pale ale, iniciamos a entrevista.

 

 

BI

Mickael Sequeira, Mickas, tem 35 anos e nasceu em França e veio para Portugal (com os pais) quando tinha dois anos. Tem uma filha.

 

Sempre viveste em Vouzela?

Sim.

Sempre viveu (e vive) em Vouzela tendo estado fora quando estudou no Porto (tirou o curso técnico de laboratório em qualidade alimentar e estudou engenharia alimentar) e em Lamego, quando esteve a trabalhar lá.

 

 

Como foi o caminho até “aqui”?

Trabalhou nos queijos em Lamego durante 6 anos (a fazer queijo de vaca), 3 anos em Palmela (a fazer queijo de azeitão de ovelha amanteigado), esteve em França a estagiar e só depois abriu “o bar” onde nos encontramos no momento da entrevista.

 

E como surgiu a ideia de produzir cerveja?

Depois de ter provados as primeiras cervejas artesanais que iam surgindo, encomendou o material pela net e experimentou fazer cerveja com um amigo. “Já faço cerveja há muito tempo, há 9 anos”, começa por contar. Na altura fazia em casa e fazia “só” 2 litros… Depois foi “aprimorando” as receitas para fazer em mais quantidade para dar aos amigos... Quando acabava, fazia mais. “Foi assim que o bichinho foi ficando e percebi que tinha gosto em fazer cerveja. Gosto muito! Dá para inventar, criar e beber (ri-se)”, conta o Mickas.

 

 

Como surgiu a ideia de abrir o espaço “Micks Craft Beer” e porquê em Vouzela?

No início perguntavam-me “porquê é que abriste um espaço em Vouzela?” “Eu respondia, porque não em Vouzela!? Aparece muita gente no Mickas que comenta “um espaço destes aqui, não estava à espera, mas ficam agradavelmente surpreendidos”...

Foi aqui que cresci, é aqui que vivo e é aqui que acho que quero ficar”, acrescenta. Tinha este espaço e decidi produzir e vender no mesmo local. Para a decoração do “meu” espaço inspirei-me nos locais que visitava e aos sítios que ía no Porto, Aveiro… ”, partilha. O espaço está decorado com a temática da produção da cerveja, e tem pormenores de decoração muito originais (candeeiros de rua e espelhos da casa de banho). No Mickas Craft Beer também é possível petiscar (tremoços, chouriço, amendoins, pizzas). Tem uma sala com lotação para 27 pessoas sentadas e duas agradáveis mesas cá fora. Quando o tempo aquece as pessoas ficam mais na rua e a vizinhança da frente, que é uma loja de vinhos, vai convivendo juntos.

 

A cerveja artesanal tem ganho muitos admiradores?

Sim.

Somos uma país vinhateiro, mas bebemos mais cerveja, essa é uma verdade”, partilha o Mickas. A ideia que existe é que beber vinho é nos tascos, nos bares não… Já a cerveja é outra história. Bebe-se cerveja em qualquer lado”, comenta. O conceito de cerveja artesanal existe em Portugal há 10 anos... “Quando começou a surgir eu comecei logo a experimentar. Este tipo de cerveja “é uma ciência”, e há muitas diferenças entre este tipo de cerveja e a cerveja “normal”. Desde os aditivos que não são adicionados na cerveja artesanal, também pelo facto desta não ser filtrada; a cerveja artesanal tem a levedura viva e é uma cerveja viva (que pode evoluir com o tempo e melhorar), ao contrário da industral.

 

Quanto tempo demoraste a saber fazer cerveja? “Eu já fazia cerveja muito antes de fazer queijo (ri-se) mas ainda estou a aprender). “Aprendo com “a malta” que faz cerveja, a testar coisas novas e a ler sobre o assunto”, conta-nos.

 

Fazes muita cerveja?

Por ano produz 10 mil litros de cerveja, “é pouco”, diz-nos. Outros produtores fazem 70/100 mil litros por ano. Este ano já produziu mais do que na mesma altura no ano passado, “mas mesmo assim, a minha produção é pequena”.

 

A dinâmica, distribuidores… como surgiu? “Bem, fui aprendendo”... “Fazer o que se gosta compensa muito à nível pessoal”, partilha. “Tenho a compreensão e o apoio familiar, o que é muito importante”, acrescenta.

Onde é possível encontrar a tua cerveja? Aqui no bar e, em alguns bares em Viseu, Aveiro, Porto. As cervejas do Mickas Craft Beer estão em vários locais, “nem sei bem onde estão”. Não negoceio o preço, tenho um preço recomendado (3 euros a garrafa) e as pessoas estão dispostas a pagar isso ou até mais se gostarem da “tua” cerveja. Em Portugal há muita gente a fazer cerveja artesanal muito boa. Há muita cooperação entre a malta que faz cerveja, partilham-se ideias, projetos… (poucos minutos antes o Mickas tinha recebido um telefonema de um colega a perguntar se queria lúpulo que estava a um bom preço) e além disso, nunca se consegue fazer cerveja igual, cada um “dá o seu toque”, “a malta dá-se toda bem!”, comenta.

 

Podes partilhar um bocadinho da ciência?

A vida da cerveja até chegar ao copo são 30 dias… depois de se fazer um lote de cerveja ou “uma fornada de cerveja” (ri-se) e passar cerca de 8 a 10 horas à frente da panela seguem-se as fermentações. A cerveja é constituída por água, por malte (que dá cor), lúpulo e levedura”. O mais importante no processo de fazer cerveja é higiene, higiene e higiene. Para além da higiene é a técnica. Todos os processos e receitas vai apontando no caderno e já testou umas 50 diferentes…

 

Para além de fazer cerveja e abrir o espaço ao público às sextas e sábados, ainda faz o design dos rótulos, participa em feiras de cerveja artesanal e outros eventos associados e as embalagens em madeira para guardar as garrafas (reaproveitando material de madeira que encontra).

 

Como é o teu dia a dia no trabalho…

Acordo, tenho tempo de levar a minha filha à escola, venho tomar um café… passo essas duas horas a viver e descontraído. Depois venho para aqui (bar) controlar as cubas, ver se está a fermentar, se está tudo ok… Há dias que vou à Aveiro levar as minhas cervejas…”, explica.

 

Projetos futuros…. abertura do espaço novo…

Abrir um outro espaço (também em Vouzela) maior, onde vai ser feita a produção de cerveja e terá uma sala de provas, mas a ideia é continuar a ter o bar também.

 

O que é que valorizas mais no meio em que vives comparando com a cidade dado que também já viveste numa?

Aqui, podemos não ter o que certas cidades têm (a nível cultural, por exemplo) mas temos muito mais que uma cidade (pelo menos eu acho)”, partilha.