Estamos em Sul, antiga capital do concelho e hoje vamos entrevistar a D.Lúcia.

 

Entre a cozinha e o terraço

 

A casa da D. Lúcia fica em Aveloso de Sul, Sul é a Freguesia e já foi capital do concelho, e nós fomos ter com ela para conhecer a sua história e a sua cozinha.

À volta da casa tem muitas árvores de fruto e o sol ilumina o terraço praticamente o dia todo. Fomos muito bem recebidas pela D. Lúcia e pelo seu marido, que ajuda nas idas às feiras e mercados e também, na construção de expositores para os chás e licores que ela produz.

 

BI

Lúcia Maria Ferreira nasceu em Sul, São Pedro do Sul e sempre viveu “aqui”, tendo trabalhado em Oliveira de Frades e em Viseu. Tem dois filhos Pedro e Bruno e é casada com o Alfredo.

 

Antes de começarmos a contar, queremos deixar a nota de que esta história é uma daquelas em que as fotografias falam juntamente com o texto. Convidamos a acompanhar!

 

Quando é que nasceu o projeto “Sabores de Sul” e como é que foi o caminho até aqui?

O projeto começou em 2012 “começamos os dois”, conta, enquanto guia-nos pela casa. A D. Lúcia começou por nos mostrar a cozinha, que fora feita só para confeccionar os produtos que vende. Uma cozinha com duas portas, uma de entrada das matérias primas e outra de saída do produto acabado,“era obrigatório no projeto ser assim”, diz. A cozinha muito aprumada e arrumada tinha muita luz e ainda cheirava a doces que tinham sido feitos há pouco tempo.

Partilhou connosco que depois de ficar desempregada do último serviço começou a frequentar a formação de doçaria, compotas e licores. Conseguiu associar os conhecimentos que já tinha com as novas aprendizagens da formação e a matéria prima que havia no seu quintal, na aldeia de Sul e nos amigos de outras aldeias do concelho de São Pedro do Sul. Desta forma combate o desperdício das frutas, ervas aromáticas e infusões e faz o que gosta. Para além de cozinhar e vender os seus produtos, a D.Lúcia tem continuado a apostar na formação contínua, participa e faz workshops de culinária.

 

 

Qual foi a primeira receita que aprendeu a fazer?

“Já conhecia algumas”, diz, “mas foi pão de ló!”, doçaria tradicional da região que consta na Carta Gastronómica da região de Lafões e que tem o nome da aldeia, pão de ló de Sul. Contudo, com as feiras de gastronomia e feirinhas em que participava identificou que algumas pessoas eram alérgicas ao glúten. Para que todos pudessem provar e comer o “piteu” da doçaria, adaptou a receita original e começou a fazê-la com a farinha de milho. O desafio tinha batido à porta, “o pão de ló não crescia”! Continuou a tentar. Aumentou nas gemas e o pão de ló de farinha de milho ficou registado como receita sua.

“Depois do pão de ló, experimentei os biscoitos, que surgiram de uma necessidade, pois do pão de ló sobravam muitas claras, que acabavam por ir para o lixo e no sentido de as aproveitar comecei por fazer os biscoitos só de clara, são melhores para a saúde”, sorri.

 

E os doces e os licores?

Também nesta fase implementou os conhecimentos que tinha e decidiu experimentar as receitas. “Comecei a fazer os doces e as compotas de fruta variada, a fruta que sobrava dos doces aproveitava para os licores, é o que continuo a fazer”, conta.

 

Sabe as receitas todas ou tem apontadas?

“Faço as minhas coisas desde 2012, só os biscoitos é que tenho de ir ver a receita”, partilha.

 

 

O que confecciona e onde pode ser adquirido?

“Faço várias coisas e aproveito muito o que há por aqui e por ali”, diz. Faz “Compotas, geleias, licores, pão de ló, empadas, biscoitos e chás…”.

Junto à cozinha, começámos por fotografar os chás dentro de sacos de pano que ainda estavam à espera de ser embalados. A D. Lúcia ia nos mostrando saco a saco enquanto dizia um por um o que era e para que servia. Mostrou-nos cidreira, lúcia-lima, alecrim, que dá para chá e para tempero na comida, hipericão “este é bom para o fígado e para a bexiga”, o eucalipto “este é bom para curar a sinusite”, também a menta “aqui tenho pouca ainda está a crescer”, o louro e a erva-príncipe.

Já embalados cuidadosamente em embalagens apropriadas, vimos o chá de tomilho, hortelã e camomila.

 

Os licores, as compotas e os biscoitos mostrou-nos no terraço. Provamos o primeiro licor e enquanto íamos degustando os diferentes sabores ouvíamos de que é que eram feitos. No expositor feito pelo marido, as garrafinhas expostas (umas maiores, outras mais pequenas) mostravam a grande variedade da escolha e também a dedicação nos rótulos. Provamos licor de maracujá e de medronho e levamos outros para provar em casa, com a família.

 

Como se faz o licor?

“Coloca-se a fruta e o álcool dentro de uma garrafa ou garrafão de vidro durante 3 meses, vai se agitando os frascos pelo menos uma vez por semana… depois desse tempo coa-se e filtra-se o líquido, depois engarrafo”, revelou. “E depois bebe-se”, acrescentou o marido da D. Lúcia.

 

 

Os biscoitos são todos iguais?

Não, há integrais de linhaça, de sementes de chia, de sésamo e abóbora e biscoitos de alecrim de gengibre e mel, de aveia nozes e passas e castanha “Vendem-se muito bem, as pessoas gostam muito!”, partilha connosco enquanto provamos.

 

Qual a variedade das compotas?

“Tenho muitas” , há compotas de framboesa e maçã, amora silvestre, figo, figo com noz, figo com amêndoa pinhão, tomate e gengibre, abóbora, abóbora com pinhão e amêndoa , morango e chila. Há também geleia de marmelo e figo .

 

Onde poderão ser encontrados os produtos que confecciona?

No mercado tradicional à sexta-feira em Vouzela e no sábado em São Pedro do Sul. Também por encomenda em casa (Aveloso de Sul) e em outras feirinhas gastronómicas nas quais vai participando pela região.

 

 

Quais são os próximos desafios?

Depois da aposta nas embalagens e no novo design o próximo passo será a criação de um website que publicite todos os produtos que faz e através do qual seja também possível vender.

 

Como é o seu dia a dia?

“Depende da época do ano mas geralmente tenho um dia estipulado para fazer a recolha das frutas, das ervas aromáticas, dos ovos, dos frutos secos, da batata doce, da farinha de milho… depois tenho de lavar tudo e pôr as ervas a secar na sombra e partir a fruta para fazer os licores e os doces. Tenho outros dias em que faço os biscoitos, atendo e registo as encomendas e confecciono o pão de ló. Nas quintas e sextas-feiras tenho de fazer mais quantidade de pão de ló e broinhas de batata doce para os mercados e feiras do fim de seman. Quando acaba a maceração dos licores, fervo as garrafas, engarrafo, meto os rótulos e os selos (é tudo feito á mão). Resumindo, trabalho muitas horas na cozinha e não só…trato das embalagens e rótulos na gráfica, das entregas de encomendas, passa tudo por mim…”.

 

O que é que valoriza mais no meio em que vivem comparando com a cidade?

Começa por destacar o ar puro da montanha, o silêncio, a ausência de trânsito intenso nas estradas, as frutas e legumes frescos da horta com ausência de químicos, as pessoas, que se conhecem todas umas às outras, e o facto de não haver stress. “Fazemos tudo com calma sem horários rígidos… há também muito sol e flores, tudo é bonito no campo!”, partilha.

 

Acabámos a nossa conversa com a D. Lúcia a mostrar as árvores de fruto que tem no jardim, cerejeira, pessegueiro, abrunheiro, limoeiro, marmeleiro, castanheiro, abrunheiro com fruta que sabe a banana, aveleira, nespereira.